segunda-feira, 21 de abril de 2008

O exemplo de Tiradentes


Hoje é dia 21 de abril, para muitos apenas mais um feriado, o que significa ficar em casa a toa, ir para a praia. Poucos sabem o que é comemorado na data de hoje. Infelizmente achamos normal o esquecimento da nossa história, da vida dos nossos heróis, dos nossos antepassados.

Num período no qual a insatisfação da população diante dos problemas sociais vividos nas terras das Minas Gerais, uma conspiração formada por grande parte da elite econômica e intelectual mineira foi arquitetada para libertar a província da Coroa de Portugal. Tiradentes era o conjurado mais humilde, o único sem alta patente militar e sem grandes recursos financeiros. Filho de um proprietário rural e uma dona de casa, Tiradentes ficou órfão cedo e logo cedo perdeu as terras da família. Sem estudos, se dedicou à prática farmacêutica e mais tarde trabalhou como dentista, cujo apelido de “Tiradentes”, viria a ser conhecido por todos.

Em 1780, se alistou nas tropas da Capitania das Minas Gerais, sendo nomeado comandante do Caminho Novo, estrada que ligava a região mineradora ao Rio de Janeiro. Exerceu a função até 1787, quando deixou a tropa e passou um não no Rio de Janeiro. Desiludido com a Capital, voltou para Vila Rica após um ano e indignado com os mandos e desmandos da Coroa em relação à província das Minas Gerais, começou a pregar a independência da província da Coroa.

Aos poucos foi aliando-se a pessoas importantes da sociedade mineira, como integrantes do clero e da elite. O movimento ganhou força após a independência das colônias estadunidenses, que gerou os Estados Unidos da América, juntamente com questões internas como a cobrança do quinto e da derrama, que seria a cobrança a força de toda a dívida dos devedores para com a Coroa, podendo confiscar todo o dinheiro e bens dos devedores, atingindo diretamente membros da elite mineira que se revoltou, se aliou aos ideais libertários de Tiradentes.

Na noite da revolução, Joaquim Silvério dos Reis, um dos inconfidentes, delatou toda a conspiração, em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa. Todos os líderes do movimento, inclusive Tiradentes foram presos e levados ao Rio de Janeiro. Durante todo o processo judicial, que durou longos três anos, todos negaram participação na conspiração, sendo apenas Tiradentes o único a admitir toda a responsabilidade pelo movimento. Todos foram condenados à morte, até a que D. Maria decretou clemência, com a redução da pena de morte para o degredo, ou seja, o exílio a todos, menos de Joaquim José da Silva Xavier.

Daquele momento em diante, Tiradentes sabia que seu destino estava selado. Talvez por ser o único a ter se declarado culpado, por ser o que menos tinha posses ou poder político. Alguns dizem que ele era o único que não pertencia à maçonaria, com certeza por ter sido o único a ter tido a coragem de mesmo coagido, defender seus ideais, mesmo vivendo um pesadelo, a acreditar num sonho, num sonho de uma pátria livre.

Na manhã do dia 21 de abril, uma procissão foi realizada nas ruas do Rio de Janeiro, com o objetivo de marcar a presença e a força da coroa portuguesa no Brasil. Pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, Tiradentes caminhou até o patíbulo, onde sua sentença foi lida durante 18 horas. Um verdadeiro espetáculo, armado pelo governo português, para marcar a autoridade da Coroa e afugentar os ideais libertários da população. Encenação esta que causou ira e revolta em grande parte dos populares.

Após ser executado e esquartejado, seu corpo foi dividido e exposto ao longo do Caminho Novo, mesmo caminho, o qual quando tenente das Tropas de Minas Gerais foi o responsável pela sua segurança. Morria ali um brasileiro, nascia um mártir, um símbolo que seria durante muito tempo esquecido e que seria resgatado da obscuridão da história durante o movimento republicano que via em seu feito, sua coragem e sua morte, a força que precisavam para derrubar a monarquia e instituir a liberdade e a democracia por todo o Brasil.

Quando estive em Brasília, visitei o Panteão da Pátria e da Liberdade, local onde são lembrados aqueles que muito fizeram pelo nosso país. O primeiro nome do “Livro de Aço”, livro no qual possui 10 nomes de heróis nacionais, é o seu: “Joaquim José da Silva Xavier”, ou Tiradentes, como ficou conhecido. A seguir nomes muito conhecidos e dignos de estarem lá: Zumbi dos Palmares; Marechal Deodoro; Dom Pedro I; Duque de Caxias; Plácido de Castro; Almirante Tamandaré; Almirante Barrozo; Santos Dumont e José Bonifácio.

A não ser em Minas Gerais, poucos locais lembraram da vida e da morte de Tiradentes, poucos jornais, sites de notícias deram atenção à data de hoje, ou pelo menos a atenção merecida a alguém que deu sua vida pela nossa liberdade. Quando uma sociedade perde sua referência, como está acontecendo com a nossa, quando o caos se torna rotineiro e não sentimos mais credibilidade nas instituições e nos nossos representantes, é comum à criação de uma expectativa da vinda de um salvador da pátria, de um messias que nunca veio e nunca virá. Todos nós devemos ser um pouco messias, todos nós precisamos acreditar nos sonhos impossíveis e fazer como Tiradentes fez em 1792, ele fez a sua parte, assumiu a sua responsabilidade e encarou de forma corajosa as conseqüências.

Que neste dia que já termina, todos nós lembremos daqueles que deram o seu suor, seu sangue e a sua vida por um país melhor.

“Se todos quisermos, poderemos fazer deste país, uma grande nação. Vamos fazê-la!” – Joaquim José da Silva Xavier

"Dez vidas daria se as tivesse, para salvar as deles!" **Palavras do mártir ao saber que a rainha concedera clemência a seus companheiros condenados a morte, excluindo ele do perdão, demonstrando além da coragem, a fidelidade de Tiradentes aos seus ideais e aos seus companheiros, os mesmos que o delataram, algo raríssimo nos dias de hoje.

Um comentário:

Josiane Ferraz disse...

“Se todos quisermos, poderemos fazer deste país, uma grande nação. Vamos fazê-la!” – Joaquim José da Silva Xavier

É um grande referencial! Temos vontade e temos ações! Tenho orgulho de fazer o país melhor a cada dia!\o/